A origem da filigrana remonta ao terceiro milénio antes de Cristo, na Mesopotâmia. As peças mais antigas datam de 2500 a.C. e foram descobertas nas sepulturas do Ur, no atual Iraque. Outras peças, descobertas na Síria, são de aproximadamente 2100 a.C.
Chegou à Europa através das rotas comerciais no mar Mediterrâneo, onde se tornou relativamente popular nas civilizações Grega e Romana. As descobertas mais antigas de joalharia em filigrana foram feitas na atual Itália e estima-se que sejam do séc. XVIII a.C. Foi também durante o Império Romano que teve origem a própria palavra “filigrana”: as descobertas mais antigas foram feitas na atual Itália, e remontam ao séc. XVIII a.C.
No entanto, uma vez que o Médio Oriente era uma encruzilhada de culturas, a filigrana continuou a sua viagem e cruzou fronteiras até à Índia e à China. No extremo Oriente, era usada sobretudo como elemento decorativo e não como joalharia. Encontramos, por exemplo, esculturas revestidas em filigrana, bules, pratos ou caixas.
Claro que a filigrana deste tempo tão remoto não era igual à que conhecemos nos dias de hoje: os padrões eram diferentes, assim como o uso. Mas a semelhança das técnicas utilizadas não deixa espaço para dúvidas - conseguimos identificar estas peças seculares como exemplares de filigrana.
Então, o que distingue a filigrana? Simples, a forma como diferentes fios finos desenham padrões e são soldados conjuntamente de maneira a criar uma peça muito maior. Nenhuma outra arte de joalharia usa uma técnica de fusão semelhante para juntar fios de ouro. Hoje - como há milhares de anos - os diferentes fios que compõem cada peça unem-se apenas pelo calor, sem recorrer a nenhum outro material ou liga.
Podemos ainda dizer que não há nenhuma outra técnica de ourivesaria em que se utilize tão poucos metais para criar formas tão grandes e tão extraordinárias. Em alguns corações em filigrana, por exemplo, metade da “superfície” da peça pode ser ar!
As peças mais antigas em filigrana descobertas na Península Ibérica remontam a 2000 - 2500 a.C., mas a sua origem não é clara. Possivelmente, estas peças pertenciam a comerciantes ou navegadores oriundos do Médio Oriente e não foram fabricadas aqui.
Só durante o domínio dos romanos, durante o séc. II a.C., começou a existir na Península exploração mineira - por curiosidade, foi neste período que se começaram a explorar as minas das serras da Pia e de Banja, em Gondomar.
Mas apenas milhares de anos depois, no séc. VIII d.C., conseguimos assegurar com certeza que a filigrana estava a ser desenvolvida e produzida em Portugal. Foi com a chegada de povos Árabes que surgiram novos padrões e que, pouco a pouco, a filigrana da Península se começou a diferenciar da filigrana de outras partes do mundo.
Enquanto que na vizinha Espanha a tradição da filigrana se foi perdendo, em Portugal foi-se apurando. A partir do séc. XVII, a filigrana portuguesa já tinha um imaginário próprio e moldes muito diferentes de qualquer outra filigrana.
A filigrana portuguesa representa maioritariamente a natureza, a religião e o amor:
Outros símbolos icónicos da nossa filigrana têm uma origem histórica ou não totalmente clara. Falamos de:
Ao contrário do que se poderia pensar, o propósito primeiro do Coração de Viana não foi ser um símbolo de amor, mas sim um símbolo de dedicação e de culto do Sagrado Coração de Jesus. Terá sido a rainha D. Maria I que, grata pela “bênção” de lhe ter sido concedido um filho varão, mandou executar um coração em ouro. .
Com o passar do tempo, o coração acabou por começar a ser relacionado com o “amor profano”, símbolo da ligação entre dois seres humanos. Tornou-se tão popular que as cornucópias e as linhas do Coração de Viana começaram a ser reproduzidas em lenços e bordadas em todo o tipo de tecidos. Eventualmente, isto trouxe ao Coração de Viana o reconhecimento e a popularidade que se mantém até aos dias de hoje.
As arrecadas começaram por ser os brincos da população mais humilde e que as classes mais privilegiadas começaram a imitar. Na sua origem estavam as arrecadas Castrejas, com inspiração no quarto crescente da lua.
Os colares de contas são tão antigos quanto a arte da ourivesaria. Mas os colares de contas a que nos referimos são os
colares com contas de Viana. As contas de Viana descendem das contas gregas: são ocas por dentro, o que as torna leves, e perfeitamente esféricas. Distinguem-se, no entanto, pelo fio em filigrana e por um pequeno ponto ao centro. p> Surgiram pela dificuldade em comprar um colar inteiro em filigrana: as mulheres iam comprando conta a conta até conseguir fazer um fio inteiro. Também existia a vantagem de alterar o fio e deixá-lo do comprimento pretendido.
Hoje, o fabrico de filigrana em Portugal concentra-se sobretudo nas zonas de Gondomar e da Póvoa do Lanhoso. No Minho, a filigrana continua a estar associada a uma larga tradição: os “trajes de domingar”. O traje minhoto feminino é sempre complementado com diversas peças de ouro, incluindo colares e brincos que passam de geração em geração.
A produção de filigrana em Gondomar, onde estamos sediados, remonta à segunda metade do séc. XVIII. A proximidade da matéria prima - proveniente, por exemplo, das serras de Pias e Banjas - fizeram da região um dos núcleos mais notáveis da Ourivesaria Portuguesa. Ainda hoje, em 2018, Gondomar é responsável por 60% da produção de ourivesaria nacional.
Como um aparte, gostaríamos de explicar que o ouro português tem 19,2 quilates (o ouro puro tem 24). Por isso, as jóias em filigrana com quilates superiores a este não usam matéria- prima nacional.
tradição da filigrana subsiste, assim, em unidades de produção artesanal e oficinas de pequena escala, maioritariamente de cariz familiar. A arte passa de geração em geração.